quinta-feira, 24 de junho de 2010

Acontecimentos: Vida de J. Herculano Pires em Marília

Prezados companheiros,

Segue abaixo acontecimentos na vida de José Herculano Pires na cidade de Marília, o texto foi retirado da obra de Jorge Rizzini intitulada "J. Herculano Pires, o apóstolo de Kardec".
Torna-se indispensavel o estudo das Obras de nosso Herculano, o grande defensor da Doutrina Espírita, bem como as Obras de Jorge Rizzini seu grande parceiro.

A vida em Marília

Nascida em 1925, a cidade de Marília, com menos de quinze anos de vida, tornara-se grande produtora de café, a maior produ-tora de seda em todo o país e o mais importante município algodoeiro da América do sul. Notável centro comercial, industrial e agrícola, Marília, quando recebeu Herculano Pires, em 1940, já possuía escola normal, ginásios, escolas de comércio, dezesseis agências bancárias, além de dois importantes jornais diários de grande porte: “Correio de Marília” e o “Diário Paulista”. E um movimento espírita muito realizador.
Foi em Marília que a família de Herculano Pires, de súbito, aumentou muito. Porque com a desencarnação de sua sogra passaram a viver na casa do apóstolo os seis irmãos de Virgínia: Antônio, Francisco, Maria, Maria de Lourdes, Maria Amélia e João José, além do sogro Francisco de Paula Ferraz. Herculano Pires, espírito boníssimo, recebeu-os de braços abertos. E ajudou a educar os menores. Anotemos, ainda, que o segundo e o terceiro filhos de Herculano e Virgínia (Heloísa e Herculaninho) nasceram em Marília, passando então a viver na mesma casa, felizes, doze pessoas. Helenilda, a caçula, nasceria em São Paulo. Felizes – não obstante as dificuldades – porque o amálgama que os unia era o amor aliado ao fato de serem espíritas; e (ressaltemos) porque tinha Herculano Pires o mais elevado sentido de família. Nos eventos doutrinários sempre se fazia acompanhar da esposa e filhos. No aniversário de casamento presenteava a esposa com um soneto de amor escrito na véspera.
Conta Heloísa Pires que aos domingos seu pai “levantava cedo e ia à feira comprar rosas e acordava mamãe com a braçada de flores. Virgínia, muito prática, dizia que era tolice, que morreriam logo. Não adiantava, Herculano estava sempre enchendo os vasos com flores. No Natal cobria a árvore com barras de chocolate e deliciava-se ao ver-nos logo cedo em cândida folia em torno daqueles galhos de chocolate. Jamais deixava de dar presentes, mesmo quando a situação financeira era difícil.”
Em um de seus diários, Herculano Pires, certamente sorrindo, escreveu: “Bem, agora Papai Noel vai trabalhar. É preciso fazer a árvore de Natal frutificar enquanto as crianças estão fora. Às 10:30 nossa árvore deu a sua primeira carga de bombons amarelos e prateados. Milagre de Papai Noel.”
Poeta, nesse mesmo diário fez a seguinte anotação:
“Fui ver as minhas roseirinhas, que estão maravilhosas. Há um botão prestes a abrir-se: rosa vermelha. Todas as manhãs visito essas meninas-vegetais, acompanhando o seu movimento. Em breve estarão na adolescência e encherão de rosas e perfumes a frente de nossa casa.”
Herculano Pires amava os animais. À guisa de ilustração, citemos um fato singelo, mas pitoresco, narrado pela filha Heloísa; caso que revela mais uma característica de sua carismática personalidade:
“O mais interessante foi o encontro de Herculano com um sapo; um bicho muito feio e maltratado, cheio de cicatrizes; devia ter servido para experiências. Herculano encontrou-o perto do Hospital São Paulo, na rua Pedro de Toledo, próximo à nossa casa. Trouxe-o embrulhado em um jornal e ficaram muito amigos. Conversava com o sapo, pingava colírio nos olhinhos inchados. Um dia, o sapo sumiu e Herculano ficou preocupado; temia que algum moleque o estivesse magoando.”
Jorge Rizzini conviveu com o apóstolo de Kardec trinta anos. Pode, pois, testemunhar que Herculano Pires tinha o riso fácil, contagiante, gostava de contar e ouvir casos, era simples, acessível a qualquer pessoa do povo. Destituído de vaidade ou orgulho, jamais impôs suas ideias e era dotado de uma virtude rara: nunca mentiu. A serenidade era seu estado normal. Só uma coisa poderia afetar-lhe a paciência ou causar-lhe até indignação: um líder espírita escrever disparates ou com o comportamento comprometer a Doutrina. Então, o mestre empunhava a pena e com vigor punha os pingos nos is, mas jamais ultrapassou os limites do cavalheirismo. Assim foram suas críticas e debates, quer pela imprensa, quer através de cartas, com Artur Massena, Edgar Armond, Pereira Guedes, Carlos Imbassahy (pai), Mário Cavalcante de Melo e, entre outros, Divaldo Pereira Franco.

Jornalismo e poesia
Assim que a família acomodou-se em casa alugada, visitou Herculano Pires o “Diário Paulista”. A redação e a oficina fun-cionavam na rua Carlos Gomes nº 519. Esse matutino fundado em 1933 circulava em todas as cidades da vasta região conhecida por Alta Paulista e a diagramação nada ficava a dever aos melhores jornais da capital. Herculano Pires, já conhecido no meio jornalístico interiorano, foi contratado, embora o “Diário Paulista” se encontrasse, comercialmente, em situação precária. Ao final do primeiro mês de trabalho o salário foi pago com atraso; nos seguintes com atraso ainda maior. Os funcionários começavam a desesperar-se e a diretoria deixou transbordar que pretendia vender a empresa jornalística. Então, Herculano Pires, contando vinte e seis anos de idade, dotado de fé inabalável na Espiritualidade e não menor confiança em seu próprio talento, não pensou duas vezes: conseguiu um empréstimo no Banco Comércio e Indústria e comprou o “Diário Paulista” a prestação. Parecia uma aventura por demais arriscada, mas ele tinha um plano. E adquiriu em São Paulo, também a prestação, um linotipo novo. E trouxe para Marília dois experimentados jornalistas, Jairo Pinto de Araújo e Nelson Vainer, que assumiu o cargo de redator-secretário. E o jornal agora modernizado e mais dinâmico atraiu novos anunciantes. E equilibrou-se.
Era excessivo o trabalho profissional, mas a literatura continuava sendo forte paixão na vida tumultuada de Herculano Pires. E, através das páginas de seu jornal ativou movimento literário de Alta Paulista, publicando poesias, contos e artigos de vários autores, entre os quais José Geraldo Vieira, que antes de mudar-se para São Paulo adquirira fama nacional graças ao seu romance A Quadragésima Porta, Anathol Rosenfeld, que se projetaria depois nos meios culturais de São Paulo, e o baiano Osório Alves de Castro, o qual viveu em Marília até 1964, autor do romance Porto Calendário, premiado pela Câmara Brasileira do Livro (Prêmio Jabuti). Foi nesse período que Herculano Pires lançou Estradas e Ruas, livro de poemas murais da Alta Paulista editado em 1943 pela Editora Civilização Brasileira e que mereceu comentários elogiosos do renomado crítico literário Sérgio Milliet e de Érico Veríssimo, então considerado uma das glórias da ficção brasileira. Érico Veríssimo escreveu que os versos de Herculano Pires “são vigorosos e me parecem muito mais cheios de substância do que muita coisa que anda por aí, editada e reeditada”.
Herculano Pires releu o parecer de Veríssimo. E certamente deixou ecoar a costumeira risada que o obrigava a fechar um pouco as pálpebras e que fazia sorrir quem estivesse perto...

Encontro com João Barbosa
O movimento espírita mariliense regozijou-se ao saber que Herculano Pires fixara residência em Marília, porque já o conhecia através de artigos e palestras.
Acompanhado da esposa, passou Herculano Pires a frequentar o Centro Espírita “Luz e Verdade”, a fim de comentar O Evangelho Segundo o Espiritismo. E, nos demais dias, atendia ele os convites para realizar palestras ou participar de reuniões de estudo das obras de Allan Kardec. Entre as instituições de Marília, no entanto, uma havia que lhe tocava o sentimento. Não podia haver em toda a Alta Paulista, certamente, centro espírita mais humilde. Herculano Pires gostava de centros espíritas assim, pobrezinhos, porque se assemelhavam aos locais onde se reuniam os antigos cristãos para ouvir a palavra dos apóstolos de Jesus. O centro estava instalado na sala de uma casinha de madeira habitada pelo velho João Barbosa, discípulo de Cairbar Schutel. Deixemos o próprio Herculano Pires, comovido, fazer a evocação:
“A sala era pequena e os frequentadores se apertavam. Numa noite de calor, pronunciei uma palestra no templozinho humilde. Uma lâmpada acesa sobre as nossas cabeças aumentava a temperatura elevada do ambiente. No auditório exíguo, mas repleto, outra lâmpada fazia o mesmo. Ninguém se retirou, porém, até o fim da reunião. O velho Barbosa a dirigia com a humildade do verdadeiro cristão, iluminado pelos princípios do Consolador.”
Quem era João Barbosa, por quem Herculano Pires tinha a maior admiração?
“João Barbosa era trabalhador de enxada. Com mais de setenta anos, continuava na labuta. Partia de madrugada para a roça, e só voltava ao anoitecer. Mas todas as noites lá estava, no seu posto de trabalho evangélico, atendendo ao povo. Sua velha companheira (Dona Lazinha) ficara cega, mas Deus lhe abrira os olhos do espírito: era vidente. O que ambos fizeram, durante anos a fio, com sacrifícios incontáveis, só Deus pode saber. Fiel à orientação de Schutel, o velho Barbosa praticava e ensinava um Espiritismo límpido, sem misturas, feito de compreensão, amor e caridade. Muito “doutor” em Doutrina, que por ali passava, tinha o que aprender com a humildade daquele apóstolo anônimo.”

Líderes de Marília e a primeira polêmica pública
Dizia com razão Herculano Pires que “ante os desvios, as deturpações, as confusões que se verificam em outros grandes centros do país, com as traições conscientes e inconscientes à doutrina, como se vêem no Rio e São Paulo, Marília é um contraste de firmeza e dignidade espírita.”
E por quê?
O movimento espírita de Marília foi o primeiro a organizar-se, fez-se coeso, e não esqueceu o estudo metódico da Codificação kardeciana. E faça-se justiça! Porque Marília teve a felicidade de possuir alguns homens verdadeiramente notáveis na direção do movimento doutrinário; homens que vivenciavam os princípios que pregavam; homens, não duvide, leitor, que por muito amar a Doutrina Espírita não hesitariam em defendê-la colocando em risco, se preciso fosse, a própria vida. Assim eram, incluindo o próprio Herculano Pires, Eurípedes Soares da Rocha, Higino Muzzi Filho, Paulo Correia de Lara, João Barbosa, Gabriel Ferreira, Luís Laraia, Santos Xandó de Araújo e, entre outros, o saudoso médium Urbano de Assis Xavier. Foi com eles que Herculano Pires conviveu durante seis anos consecutivos em Marília. Para que tenha o leitor ideia da fibra e idealismo desses homens, citemos, como exemplo, Eurípedes Soares da Rocha, fundador da cidade de Marília, a quem Herculano Pires chamava de “o patriarca do Espiritismo de Marília” e “exemplo de abnegação ao próximo”. Proprietário de inúmeras terras, o generoso Eurípedes Soares da Rocha, quanto mais dinheiro ganhava, mais doações fazia ao movimento espírita da cidade. Ele não somente doava terrenos, como edificava ou ajudava a edificar, centros, creches, asilos. O hospital espírita de Marília, destinado ao socorro gratuito dos doentes mentais não apenas de Marília, mas de toda a Alta Paulista e que é, no dizer de Herculano Pires, “um grande monumento da caridade cristã”, é obra de Eurípedes Soares da Rocha. Graças ao prestígio de seu nome a obra recebeu contribuições do povo, comércio, indústria e lavoura, inclusive de cidades vizinhas. Ocupava esse hospital uma área de 48.000 m² e já dispunha no ano de 1947 acomodações para duzentos internados. Depois, tornou-se uma verdadeira cidade hospitalar. Herculano Pires fazia parte da diretoria; tinha o cargo de 2º secretário e Eurípedes Soares da Rocha o de provedor.
Essa foi uma fase dura. Fase de lutas! O hospital ficou gravado para sempre na memória de Herculano Pires devido, também, a uma polêmica que sustentou com o médico Rodrigo Argolo Ferrão, médico-chefe da Casa de Saúde São Luís, o qual combatia pelas páginas do “Correio de Marília” a iniciativa dos espíritas e reprovava o tratamento espiritual dentro de um hospital psiquiátrico. Herculano Pires respondeu-lhe pelas colunas do “Diário Paulista”. A polêmica emocionou o público e durou meses. Teve um feliz final na “Basserie”, bar situado no centro da avenida Sampaio Vidal. Acompanhado de amigos, Herculano e o Dr. Ângelo abraçaram-se e beberam “o café da paz”. Mas, o hospital continuou a empregar o tratamento espiritual juntamente com o psiquiátrico... Porque (escreveu Herculano Pires) sabemos que “sem o tratamento adequado, que é o tratamento espírita, esses casos não se resolvem, podendo, às vezes, sofrer passageiros arrefecimentos, mas no geral agravando-se até a completa loucura.”
Essa foi a primeira defesa pública que Herculano Pires fez do inalienável direito do livre exercício da mediunidade. A segunda intervenção (agora em defesa dos postulados do Espiritismo) foi devido à publicação do livro Temas Espirituais do respeitado e culto pastor protestante Otoniel Mota, fundador da Associação Evangélica Brasileira, autor de sessenta livros e membro da Academia Paulista de Letras. A defesa de Herculano, sintética e primorosa, brilhante mesmo, está contida no opúsculo de vinte e uma páginas És mestre... e ignoras estas coisas?, que a Casa Editora “O Clarim” editou em 1946 e que Otoniel Mota recebeu, leu e achou de bom alvitre não responder...
Registremos, ainda, que em novembro de 1941 Herculano Pires fundou a “Mocidade Espírita de Marília”.

Sessões com o médium Urbano de Assis Xavier
Herculano Pires sentia-se guiado pela Espiritualidade. Em Cerqueira César assistira sessões memoráveis com o médium de efeitos físicos Ciro Milton de Abreu, e agora em Marília conhecera o cirurgião-dentista Urbano de Assis Xavier, pregador espírita e notável médium de transfiguração, voz-direta, cura e incorporação. O autor destas linhas teve a satisfação de conhecê-lo na casa de Herculano Pires, em São Paulo. Urbano de Assis Xavier, nascido na Bahia em família católica, transferiu-se para o interior paulista em 1935. Presidente de uma congregação mariana, Urbano se casara com uma filha-de-Maria. Logo depois a mediunidade reve-lou-se espontânea em seu lar. O Espírito-guia nele incorporado ensinou sua esposa a doutrinar o Espírito que perturbava o ambiente. E ainda mais: aconselhou-a a levar Urbano a visitar Cairbar Schutel, na cidade de Matão. Urbano, já senhor de si, ao saber do estranho episódio, recebeu um impacto. Mas, foi em busca de Schutel, que lhe deu preciosa orientação. Abandonou, então, a igreja e a presidência da congregação mariana e passou a frequentar as sessões dirigidas por Cairbar Schutel. Conta Herculano Pires que Urbano “transformava-se de tal maneira ao receber o Espírito comunicante, que este era facilmente reconhecido pelas pessoas amigas, sem necessidade de dizer o nome. Chegava, às vezes, à transfiguração, transformando o seu rosto com os traços do Espírito comunicante, como tivemos ocasião de observar. Nos últimos tempos, desenvolveu também a mediunidade de “voz direta”, caindo em transe enquanto os espíritos falavam diretamente com os presentes, vibrando a voz em pleno ar. Tivemos ocasião de palestrar com entes queridos através desse maravilhoso fenômeno, em sessão realizada com Urbano em Marília, e na mesma sessão outras pessoas puderam fazer o mes-mo.”
Urbano de Assis Xavier não era apenas dotado de aguda sensibilidade mediúnica. Ele possuía também aprimorada cultura doutrinária, o que possibilitou a estreita amizade com Herculano Pires, amizade que evoluiria com o decorrer dos anos. Urbano de Assis Xavier desencarnou em Marília no dia 31 de outubro de 1959.

I Congresso Espírita da Alta Paulista
O mais importante acontecimento doutrinário ocorrido no interior do Estado de São Paulo certamente foi o Primeiro Congresso Espírita da Alta Paulista, que Urbano de Assis Xavier presidiu e Herculano Pires planificou e secretariou. Realizado no período de 30 de março a 4 de abril de 1946 em Marília, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, esse congresso histórico foi promovido pelos centros espíritas marilienses e repercutiu pelo Brasil afora. Conta-nos a revista “A Centelha”, dirigida pelo confrade João Silveira, em uma bem feita reportagem, que a primeira prévia do congresso realizou-se na cidade de Garça, a segunda na cidade de Pompeia, a terceira em Quintana, a quarta em Tupã, a quinta em Oswaldo Cruz, no coração da chamada Zona da Mata (fora de estrada de ferro) e a sexta e última prévia em Bauru. Todas muito concorridas. A caravana da Comissão Organizadora do Congresso, formada pelos confrades Eurípedes Soares da Rocha, Higino Muzzi Filho, Marcial Veloso, Antônio Rocco Junior, Hélio Tavares, Manoel Pinto Ribeiro, Gabriel Ferreira, Paulo da Cunha Matos e Santos Xandó Araújo, partindo de Marília, visitou cada cidade e, assim, “durante quase um mês e meio a Alta Paulista foi intensamente sacudida pelas várias concentrações preparatórias do Congresso, durante as quais falavam numerosos oradores e faziam-se farta distribuição de manifestos e boletins.”
Como se nota, o plano da fase preparatória do Congresso foi elaborado com muita argúcia por Herculano Pires. Não devem ser aqui esquecidos Paulo Corrêa de Lara e Higino Muzzi Filho, cuja colaboração foi efetiva. Mas, era inegável, a Espiritualidade Superior se fazia ali presente, a todos estimulando. “Na concentração de Oswaldo Cruz, por exemplo, perante numerosa assistência e autoridades locais, quando se ia encerrar a reunião, a médium inconsciente Nair Arantes, de Tupã, foi subitamente tomada, e pronunciou uma admirável oração, que a todos empolgou. O Dr. Crescencio Miranda, ilustre médico e prefeito municipal de Oswaldo Cruz, teve os olhos cheios de lágrimas de emoção ao assistir aquela admirável preleção de uma mulher simples, da roça, semi-analfabeta e incapaz de dizer uma parte sequer do que havia falado. Assim, também, no encerramento do congresso, após a prece pronunciada pelo ilustre confrade Dr. Tomaz Novelino, do Sanatório Allan Kardec, de Franca, o Dr. Urbano de Assis Xavier, médium inconsciente, foi tomado pelo elevado espírito de Pai Jacó, e a seguir pelo do querido irmão Cairbar Schutel, que pronunciou magnífica oração de encerramento dos trabalhos. Estava presente o confrade José da Costa Filho, diretor da “Revista Internacional do Espiritismo”, de Matão, velho companheiro de Cairbar, e que emocionado reco-nheceu a perfeita identidade do Espírito comunicante.”
Exaustivo, porém, foi o desenvolvimento do I Congresso Espírita da Alta Paulista. Diz a revista que “em todos os trabalhos do Congresso, desde a sua instalação até o encerramento, a Comissão Executiva não descansou um só momento. Herculano Pires e o Dr. Urbano Xavier demonstraram-se incansáveis, dia e noite em contínua atividade, coordenando as matérias e providenciando milhares de coisas necessárias ao bom termo do Congresso.”
Anos depois, já residindo em São Paulo, registrava Herculano Pires em artigo de jornal a seguinte informação preciosa para a história do movimento espírita paulista:
“Uma das teses aprovadas no Congresso de Marília recomendava a formação de Conselhos Espíritas Municipais em todas as cidades para a unificação dos movimentos locais, participando desses conselhos representantes de todos os centros existentes em cada cidade. Em consequência, antes mesmo que a USE (União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo) estivesse criada em São Paulo, já eram organizados os Conselhos Municipais de Marília, de Garça, de Tupã e de outras cidades.”
Essa tese foi aprovada por unanimidade e, registremos, era de autoria de Herculano Pires.
Trabalho verdadeiramente pioneiro, o de unificar os centros espíritas da Alta Paulista. Porque a USE foi fundada oficialmente no I Congresso Espírita do Estado de São Paulo – quase um ano depois do congresso de Marília. A verdade histórica é que o I Congresso Espírita da Alta Paulista foi que deu estrutura e orientação à USE. Outro detalhe: Carlos Imbassahy, residente em Niterói, colaborou com o congresso da Alta Paulista remetendo a tese “Os Animais perante a Doutrina Espírita”, o que leva a crer que data dessa época sua correspondência com Herculano Pires e, consequentemente, a amizade. E ainda outro detalhe que merece relevo, mas com alguns reparos: no dia 3 de abril, quando o congresso da Alta Paulista estava no apogeu, chegou em Marília uma delegação de São Paulo integrada por Pedro de Camargo (o inesquecível orador Vinícius), Antônio Rodrigues Montemor e a valorosa confreira Anita Brisa. Afirma Luís Monteiro de Barros (ex-presidente da USE e da Federação Espírita do Estado de São Paulo), numa entrevista que “Vinicius foi até lá interessado na questão política e pensava obter apoio do interior”. E mais: “A ideia inicial era facilitar ao espírita os meios de entrar na política”. Infelizmente, não informa Luís Monteiro de Barros que Vinícius fora, simplesmente, portador da mensagem que representava o pensamento de alguns elementos da Federação Espírita do Estado de São Paulo. A mensagem, pois, não era dele, Vinícius. E a bem da verdade, não era também de Edgard Armond, secretário-geral daquela federação. Não há documento que prove o contrário. A referida mensagem, tendo objetivos (quem agora depõe é Herculano Pires) “provocou a rejeição do plenário, com numerosas críticas e protestos”. E mais: “Vinícius foi nomeado delegado do Congresso, pelo plenário, para tentar demover a FEESP dos objetivos políticos, o que, felizmente, conseguiu.”
Foram apresentadas no I Congresso Espírita da Alta Paulista quatorze teses. Oito mereceram aprovação, entre as quais a de Herculano Pires, que tinha por título “O Espiritismo e a Construção de um Novo Mundo – Estabelecimento do Reino de Deus na Terra”. Enfrentava esta tese um tema por demais envolvente e atual. Foi lida em plenário e só depois de caloroso debate recebeu aprovação unânime.
O que pregava Herculano Pires? – A organização de um amplo movimento social desprovido de qualquer aspecto sectarista, que integrasse pessoas espíritas ou não, com o objetivo único de implantar no mundo os princípios do Reino de Deus contidos no Evangelho. Esse movimento não teria, no entanto, parentesco ou semelhança com os partidos políticos. E como os partidos vivem de demagogia, buscando o poder a qualquer preço, o movimento do Reino não se envolveria com eles e empenhar-se-ia pelo registro de candidatos livres.
Essa arrojada tese foi editada em 1946 por Antônio Batista Lino (fundador da Editora Lake, de São Paulo), com o título de “O Reino” no mesmo ano, portanto, em que se realizou o I Congresso Espírita da Alta Paulista. Mas, Herculano não estava satisfeito com o enfoque. O Reino de Deus não poderia ser estabelecido na Terra somente com a criação de um vasto movimento cristão, e sim, como ensinava a Doutrina Espírita, através do processo natural da evolução. E, em 1967 (vinte e um anos depois) retomou-a e deu-lhe o verdadeiro enfoque doutrinário, ampliando-a. “O Reino” tem hoje 168 páginas.
“O Reino de Deus – escreveu Herculano Pires, inspirado – está acima da sociedade de classes, do mundo injusto de ricos e pobres, das competições políticas e econômicas. O Reino de Deus está dentro de nós, na aspiração divina da Justiça e do Amor, que é o próprio reflexo de Deus na consciência huma-na.”
E, depois de afirmar que é preciso transformar o mundo pela transformação do homem (e transformar o homem pela transforma-ção do mundo), acrescenta, agora totalmente iluminado:
“Não é através de um partido político, de um movimento ideológico-social, de uma sociedade secreta de natureza ocultista, de uma cadeira de vereador, deputado ou senador, de um cargo administrativo nas rodas governamentais ou coisa semelhante que podemos atingir o Reino. Muitos já se iludiram com isso e acabaram mais distanciados do Reino, atraídos que foram pelos reinozinhos terrenos. Afundaram-se na politicalha ou perderam-se na rotina eleitoral, na caça mundana e subserviente, hipócrita, aos votos do povo. O Reino não começa por sinais exteriores, mas por luzes internas. Só quando o coração muda de ritmo e a noite do espírito apegado ao mundanismo se acende de estrelas espirituais, é que estamos nos aproximando do Reino.”

Em defesa do “Reino”
Curioso é que a tese com o texto primitivo, vinte e cinco anos depois de sua publicação pela Editora Lake (já estando, portanto, nas livrarias a segunda edição com o texto definitivo impresso pela Edicel), veio a causar aborrecimentos a Herculano Pires. É que os jovens que constituíam o Movimento Universitário Espírita de Campinas (movimento que mereceu no início o apoio de Herculano Pires) publicaram em seu órgão oficial “A Fagulha” artigos baseados na antiga tese, mas que traziam inegável sabor marxista. Herculano Pires advertiu-os. Os artigos, porém conti-nuaram, citando-lhe o nome e comprometendo sua verdadeira posição doutrinária. Temos em nosso arquivo cartas de Deolindo Amorim, chamando a atenção de Herculano Pires para o fato. É de notar-se que o grupo havia publicado, um ano antes, o livro Espiritismo e Marxismo, de Jacob Holzmann Neto, o malogrado orador espírita que se perdeu nas teias do comunismo...
Herculano Pires só reagiu publicamente quando o grupo campineiro publicou em separata seu vasto prefácio ao livro Dialética e Metapsíquica, de Humberto Mariotti. Herculano Pires autorizara a publicação, é verdade, mas ao recebê-la teve uma surpresa desagradável: os rapazes, sem avisá-lo, haviam incluído na separata um prefácio assinado pelo marxista Luís de Magalhães Cavalcanti (membro do Movimento Universitário Espírita de Salvador), cujas ideias contrariavam as suas. Agora já não havia outra solução se não desmascarar publicamente o grupo de Campinas. E Herculano Pires redigiu o magistral artigo “Meu desencontro com A Fagulha”, publicado, simultaneamente, na “Revista Internacional de Espiritismo” e no “Mundo Espírita”, em setembro de 1971, e em “Unificação”, edição de novembro de 1971.
Em carta endereçada a Deolindo Amorim em 9 de novembro de 1971, Herculano Pires havia escrito sobre “A Fagulha”:
“Não sou dos que cruzam os braços diante das mistificações e dos abusos que se praticam no meio espírita. Você mesmo deve ter visto, pelas minhas atitudes e pelos meus artigos, que não sou homem de negaças.”
E mais:
“Parece-me que não temos o direito de calar e fugir nesses momentos. Precisamos fazer como Paulo: tomar posição definida e falar às claras.”
E, referindo-se agora, diretamente, ao grupo campineiro:
“Trata-se de um grupo de jovens universitários, alguns deles brilhantes e promissores. Vi que estavam em caminho errado e quis ajudá-los a se corrigirem. Não é esse o nosso dever? Poupei-os o mais que me foi possível. Concitei-os a estudar melhor a doutrina, a se furtarem às influenciações de certos elementos adultos que os orientam. Durante uns dois anos ou mais me pediram colaboração para “A Fagulha” e eu sempre os neguei. Eles passaram a reproduzir trechos de meus escritos já publicados em livros, jornais e revistas, extraindo o que lhes convinha e sonegando outros. Conversei com eles várias vezes, de maneira franca, até mesmo em assembleias espíritas. Tive debates ardorosos com eles. Mas nada adiantou. Acabaram fazendo essa ursada do “Espiritismo Dialético”. Então só me restava o que fiz: desmascará-los através de um artigo incisivo e objetivo. É pena, mas não havia outro re-curso.”
Deolindo Amorim emocionara-se com o artigo de Herculano Pires, e a certa altura de sua carta de 30 de outubro, exclama:
“Agora, porém, abro a “Revista Internacional de Espiritismo” e vejo seu formidável artigo (não há outro adjetivo!) sobre seu desencontro com “A Fagulha” e não resisti à vontade de lhe escrever imediatamente, embora você ainda me deva resposta a outra carta, no mesmo sentido. Muito bem, Herculano! Aquele artigo é uma definição objetiva, lúcida, inequívoca. Eu bem gostaria que fosse divulgado em separata ou fosse reproduzido em diversos jornais, a fim de que certas inteligências vesgas, inimigas da cultura e da independência intelectual, fiquem sabendo como você pensa e como se situa perante os grupos que querem levar o Espiritismo para os despenhadeiros do marxismo. (...)”
No vibrante artigo Herculano Pires inicialmente define sua po-sição:
“Minha posição é uma só: o Espiritismo é uma doutrina dialética por natureza, mas na linha cristã-evangélica e na linha hegeliana espiritualista; não na linha marxista, que critiquei e critico, por considerá-la até mesmo antidialética.”
E, a seguir o apóstolo de Kardec separa o joio do trigo:
“Minha opinião é a de que o Espiritismo representa a síntese de todo o conhecimento existente. Dessa maneira, o que há de bom no Marxismo, o que provém do próprio Cristianismo, também está no Espiritismo, mas de maneira mais ampla, numa visão interexistencial do homem e do mundo, que falta inteiramente na visão materialista marxista.”
E Herculano Pires insiste com sua costumeira lucidez:
“Não será com os moldes do figurino marxista que conseguiremos dar ao Espiritismo a eficiência necessária na transformação do mundo. Essa transformação, por sua vez, não poderá ser feita, segundo penso, nos moldes de nenhuma das doutrinas sociais atualmente consideradas na Terra como decisivas. A prova aí está, no próprio choque apocalíptico que nos ameaça. Só a Doutrina Espírita aprofunda as causas espirituais das injustiças e monstruosidades da nossa estrutura social, e que por sinal estão presentes não apenas no mundo capitalista, mas também no chamado mundo socialista.”
E Herculano Pires finaliza com estas palavras plenas de bom-senso:
“... não precisamos de nenhuma complementação marxista para o Espiritismo. Pelo contrário, o Espiritismo é que tem muito a dar a todas as filosofias contemporâneas e a todas as ciências, complementando-as com a sua visão integral do homem e da vida.”
Esse artigo teve repercussão inclusive fora do Brasil. Ofélia León Bravo, notável intelectual cubana que viveu foragida em Nova Jersey, nos Estados Unidos, por questões políticas (ela fundou e presidiu em Cuba a Associação de Médiuns Espiritistas, foi presidente da Federação Espírita de Havana e fez parte da Comissão Organizadora do III Congresso Espírita Panamericano realizado em 1957 na capital cubana), desencarnada em 24 de janeiro de 1990, enviou a Herculano Pires longa carta, da qual extraímos o seguinte trecho histórico:
“En Cuba fuimos durante muchos años activos militantes del Espiritismo, hasta dos años después de la llegada del Castro-comunismo, en que lenta, pero ininterrumpidamente, fueram desapareciendo instituciones y publicaciones. Hasta el busto en bronce erigido a la memoria de Allan Kardec por la Comision Organizadora de los Actos Pro Centenario de El Libro de Los Espiritus y que se encontraba emplazado en el parque comprendido em las calles Almendares, Lugareño y Luaces em la Habana – busto que fue develado, el domingo 21 de abril de 1957, el que fuera retirado por las autoridades militares que gobiernan la isla, entre los meses de marzo-abril de 1971.
Seria atrevido por nuestra parte decirle que pensamos con Ud cuando dice: “Mas entiendo y reafirmo, después de largos años de observación y de estudios, que no precisasmos de ninguna complementación marxista para el Espiritismo. Por el contrario, el Espiritismo es el que tiene mucho que dar a todas las filosofias contemporaneas y a todas las Ciencias, complementándolas con su visión integral del hombre y de la vida.”
E o refinado poeta e filósofo argentino Humberto Mariotti, que tinha grande afinidade intelectual com Herculano Pires, remeteu-lhe estas linhas:
“La juventude es bella, revolucionaria, pero cuando llega a ciertos extremismos acerca de los valores eternos del Espiritu, borra con el codo todo lo que afirmativamente realiza y da argumentos a los conservadores que temem el progreso incesante de la humanidad y del conocimiento. Tenga fe, Herculano, en lo Alto. El Espiritu de Verdad apoya su obra y le dará la inspiración necesaria para que su obra marque en la cultura espírita mundial un hito que nadie podrá desarraigar.”
Herculano Pires, então deu o episódio por encerrado.
Dois anos depois desaparecia o Movimento Universitário Espí-rita.
Finalizemos, esclarecendo os leitores que cerca de um ano antes da edição de “A Fagulha”, edição que comprometia Herculano Pires, esses jovens de Campinas apresentaram no III Congresso Educacional Espírita Paulista uma tese provocadora intitulada “Espiritismo e Socialização”, cujo objetivo era (são palavras de Herculano Pires) “transformar a evangelização em propaganda política disfarçada”. O apóstolo de Kardec, então, manteve debate com o marxista Adalberto Paranhos e, vitorioso, conseguiu que o plenário rejeitasse a tese, o que – curiosamente – muito aborreceu Ary Lex (este confrade foi candidato a vereador pelo partido Socialista Brasileiro várias vezes, não conseguindo, porém, que os espíritas o elegessem). Herculano Pires, em carta dirigida ao emérito educador espírita Thomaz Novelino, revela detalhes importantes sobre o incidente com Ary Lex ocorrido durante o Congresso Educacional, incidente que, certamente devido ao acúmulo de informações (nem sempre corretas) contidas em seu livro 60 anos de Espiritismo no Estado de São Paulo, Ary Lex esqueceu de acrescentar... Vamos rememorá-lo.
A carta de Herculano Pires traz a data de 12 de agosto de 1970. Leia-se este trecho:
“Ary Lex louvou a maturidade da tese dos jovens e declarou em plenário que os Centros Espíritas são umas “porcarias, com gente que se reúne em torno da mesa para estrebuchar com os ataques de histeria dos médiuns.” Eu não quis falar mais nada e preferi calar. Mas na saída do plenário eu lhe disse: “Ouvi o padre Quevedo falando pela sua boca. As suas palavras são as mesmas que ele usa para combater e ridicularizar o Espiritismo na TV e no Rádio.” Ele riu amarelo e disse que não era bem assim, tratando de escapulir. Isso tudo mostra a falta de maturidade de confrades que deviam já ter amadurecido há muito tempo. Conhecemos as deficiências dos Centros, mas sabemos também que isso decorre da falta de cultura do povo, de maneira que não podemos tomar atitudes dessas num plenário e em parte alguma.”
E ainda mais:
“Quanto às teses, me informaram que havia dez, sendo metade delas muito substanciosa, incluindo-se duas sobre Pedagogia Espírita que valiam pelo Congresso. Não pretendendo açambarcar o assunto, deixei de elaborar a minha tese. Gostaria que o problema fosse resolvido por outro confrade. Eu me reservaria apenas para as comissões e os debates. Fui obrigado a redigir a minha tese às pressas, em cima da hora, e o Ary Lex ainda teve a coragem de declarar em plenário que a minha tese não devia ser aceita por estar fora do prazo.”
Diante do que acabamos de expor, compreende o leitor por que nosso companheiro Ary Lex, em seu já citado livro 60 anos de Espiritismo no Estado de São Paulo (Edições FEESP, 1996), escreveu que Herculano Pires “como ser humano tinha suas falhas”. A acusação é grave. Mas, as falhas, quais eram? Eis as que aponta Ary Lex na página 153:
Herculano Pires “não gostava de ouvir as palestras de outros oradores e participar de reuniões em que se perde tempo precioso, ouvindo coisas sem nexo”.
É o caso de perguntar-se: haverá alguém que goste de ouvir coisas sem nexo?
Quanto à afirmação de que Herculano Pires “não gostava de ouvir palestras de outros oradores”, o autor deste livro acompanhou o apóstolo de Kardec durante três décadas e pode declarar que não corresponde à realidade. Herculano Pires gostava de ouvi-las, sim, mas desde que proferidas por confrades competentes, amantes da verdade, reais discípulos de Kardec, como Leão Pitta, Anselmo Gomes, Deolindo Amorim, Carlos Imbassahy, Lauro Scheleder, Humberto Mariotti e outros.

Fonte: RIZZINI, Jorge. J. Herculano Pires, o apóstolo de Kardec. São Paulo: Paideia, 2000

A versão eletronica pode ser encontrada gratuitamente no seguinte link:
http://www.autoresespiritasclassicos.com/Autores%20Espiritas%20Classicos%20%20Diversos/Herculano%20Pires/O%20Apostolo%20do%20Espiritismo/Herculano%20Pires%20%20-%20O%20Apóstolo%20de%20%20Kardec.htm

Questões e Problemas - Crianças, Guias Espirituais dos Pais

Revista Espírita, agosto de 1866

Tendo perdido um filho de sete anos, e tendo-se tornado médium, a mãe teve a mesma criança como guia. Um dia lhe fez a seguinte pergunta:
Caro bem amado filho, um dos meus amigos espírita não compreende e não admite possas ser o guia espiritual de tua mãe, desde que ela existia antes de ti e, indubitavelmente, deve ter tido um guia, nem que fosse durante o tempo que te tivemos ao nosso lado. Podes dar-nos algumas explicações?
Resposta do Espírito da criança: - Como quereis aprofundar tudo quanto vos parece incompreensível? Aquele que vos parece mesmo o mais adiantado no Espiritismo está apenas nos primeiros elementos da doutrina e não sabe mais do que este ou aquele que vos parece ao par de tudo e capaz de vos dar explicações. - Eu existi muito tempo antes de minha mãe, e ocupei, em outra existência, uma posição eminente por meus conhecimentos intelectuais.
Mas um imenso orgulho se havia apoderado de meu Espírito, e durante várias existências consecutivas fui submetido à mesma provação, sem poder triunfar, até chegar à existência em que estava junto de vós. Mas como já era adiantado e minha partida devia servir ao vosso adiantamento, a vós tão atrasados na vida espírita, Deus me chamou antes do fim de minha carreira, considerando minha missão junto a vós mais aproveitável como Espírito do que como encarnado.
Durante minha última estada na terra, minha mãe teve o seu anjo da guarda junto a ela, mas temporariamente, porque Deus sabia que era eu que devia ser o seu guia espiritual e que eu a traria mais eficazmente na via de que ela estava tão afastada. Esse guia, que ela tinha então, foi chamado a uma outra missão, quando vim tomar seu lugar junto a ela.
Perguntai aos que sabeis mais adiantados do que vós, se esta explicação é lógica e boa. Porque por ser que seja minha opinião pessoal e, mesmo a emitindo, não sei bem se me engano. Enfim, isto vos será explicado, se perguntardes. Muitas coisas ainda vos são ocultas e vos parecerão claras mais tarde. Não queirais aprofundar muito porque, então, dessa constante preocupação nasce a confusão de vossas idéias. Tende paciência; e, assim como um espelho embaciado por um sopro ligeiro, se clarifica pouco a pouco, vosso espírito tranqüilo e calmo atingirá esse grau de compreensão necessário ao vosso adiantamento.
Coragem, pois, bons pais; marchai com confiança, e um, dia bendirei a hora da provação terrível que vos trouxe à via da felicidade eterna, e sem a qual teríeis muitas existências infelizes a percorrer ainda.
OBSERVAÇÃO: Essa criança era de uma precocidade intelectual rara para a sua idade. Mesmo em estado de saúde, parecia pressentir seu fim próximo. Alegrava-se nos cemitérios e sem jamais ter ouvido falar em Espiritismo, em que os pais não acreditavam, muitas vezes perguntava se, quando se está morto, não se podia voltar para os que se tinha amado; aspirava a morte como uma felicidade e diria que quando morresse sua mãe não deveria afligir-se, porque voltaria para junto dela. Com efeito, foi a morte de três filhos em alguns dias que levou os pais a buscar uma consolação no Espiritismo. Essa consolação a encontraram largamente e sua fé foi recompensada pela possibilidade de conversar a cada instante com os filhos, pois em muito pouco tempo a mãe se tornou excelente médium, tendo até o filho como guia, Espírito que se revela por uma grande superioridade.

Allan Kardec

terça-feira, 18 de maio de 2010

Endereço e Atividades de Nossa Casa

Prezados Amigos,

Eis nossa primeira postagem, com o intuito de divulgar o nosso endereço físico e as atividades de nossa casa.
Estamos localizados na Rua Amador Bueno, nº 658. Bairro: Vila Coimbra. Marília - SP


HORÁRIOS E ATIVIDADES DE NOSSA CASA

SEGUNDA-FEIRA
19h30m - Evangelho terapia, Passes, Tratamento e Orientação Espiritual

QUARTA-FEIRA14h00m - Trabalhos Manuais (Artesanatos)
19h30m - Estudos, Passes e Reunião Mediúnica

SEXTA-FEIRA
19h30m - Evangelho terapia, Passes, Tratamento e Orientação Espiritual

SÁBADO
10h00m - Evangelização Infantil
15h00m - Estudo , Desenvolvimento Mediúnico, Passes e Orientação Espiritual


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Qualquer dúvida em termos de doutrina espírita e de nossas atividades temos o seguinte endereço de e-mail para contatos: comunhaoespiritamarilia@gmail.com
Onde teremos o prazer de esclarecer questões que estiverem dentro de nosso alcance.

Abraços fraternos!